Em lançamento do Sumário de Touros ANCP, Carlos Viacava fala sobre genômica e o futuro da pecuária

No último dia 18 de agosto, o pecuarista Carlos Viacava participou do lançamento do Sumário de Touros das raças Nelore, Guzerá, Brahman e Tabapuã - Agosto de 2020, da ANCP (Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores).

Em razão da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), o lançamento da publicação foi feito de forma virtual, por meio de live no Instagram da entidade, da qual Viacava é vice-presidente.

Em conversa com Letícia Mendes Castro, responsável pelo departamento de Transferência de Tecnologia da ANCP, o pecuarista falou sobre a sua experiência como criador, destacando o programa de melhoramento genético da entidade, o uso da genômica nas avaliações e o futuro da pecuária brasileira.

Viacava destacou a importância do sumário, que traz informações sobre touros que servem para todos os criadores que visam utilizá-los nas várias DEPs com o objetivo de suprir as necessidades de seu rebanho. “Ele serve como uma bula, onde você escolhe o que realmente precisa”, explicou.

O criador falou sobre como o programa de melhoramento genético pode oferecer um expressivo suporte para melhorar o rebanho, proporcionando um gado mais fértil, pesado ou precoce, dependendo das ferramentas empregadas. Além disso, salientou que o programa ajuda no sistema de produção, melhorando os resultados e o lucro do pecuarista. “Sem a estação de monta e o grupo de manejo não é possível ter melhoramento genético”, afirmou.

Sobre o PMGRN

Viacava relembrou a história do Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore (PMGRN), anteriormente conhecido como “Programa da USP” por ter nascido no departamento de Genética do curso de Medicina da USP de Ribeirão Preto. Atualmente, a iniciativa envolve 400 fazendas, além de pesquisadores e técnicos.

“Em 1988, o então presidente da ACNB (Associação dos Criadores de Nelore do Brasil), Ovídio Carlos de Brito, me levou a um seminário em Ribeirão Preto (SP), onde foi apresentada a DEP (Diferença Esperada de Progênie), que predizia as características do animal que ia nascer”, explicou o criador, lembrando que aquela foi a primeira vez em que ouviu falar sobre melhoramento genético no Brasil.

O pecuarista recordou a época em que assumiu a presidência da ACNB, em 1990, período em que surgiu o CEIP (Certificado Especial de Identificação e Produção), emitido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

O documento despertou grande interesse em muitos pesquisadores, que se dedicaram ao desenvolvimento de novos programas. No entanto, ressaltou o criador, “para conseguir o CEIP, assim como na ANCP, é preciso alcançar um critério estatístico e ser aprovado pelo Ministério da Agricultura. Por isso, nem todos os programas existentes na atualidade possuem a certificação”.

Genômica

O criador explica que a vantagem do uso da genômica é a melhoria da acurácia das informações das DEPs. Com as novas pesquisas em genética e DNA, foram descobertos alguns marcadores que geram dados sobre os animais por meio das combinações de genes. “Com as informações do genoma (genética), somadas às de fenótipo, é possível construir um arcabouço com informações perfeitas e com muito mais confiança”, assinalou.

De acordo com Viacava, a genômica começou a ser utilizada em 2011 com a “DEP Auxiliada pela Genômica”. Em 2014, foi lançada a DEP Genômica. “A genômica acelera o processo de seleção, sendo que, atualmente, os touros jovens já têm um índice de confiança de até 80% de que serão ótimos reprodutores no futuro”, disse.

A ANCP tem o maior banco de DEPs genômicas do Brasil, com 65.711 genomas pagos pelos criadores associados da entidade, que financiam e participam dos resultados.

Futuro da pecuária brasileira

Para Viacava, a entrada da China no mercado de carne brasileira está ajudando o País a passar pelo momento difícil, marcado por perdas de renda e queda nos empregos. Ele explica que houve uma retração no consumo interno de carnes, mas que isso foi compensado pelo aumento de exportações para a China.

“Estamos vivendo um ano muito bom, com bons preços na arroba do boi, criadores vendendo bastante nos leilões e, ao mesmo tempo, retendo fêmeas para produzir mais, já esperando crescimento ainda maior no consumo interno e nas exportações”, ponderou.

O pecuarista também enfatizou a questão da sustentabilidade na pecuária nacional que, infelizmente, tem sido vista de forma negativa no exterior. Segundo ele, é preciso trabalhar bastante para informar como o País lida com a questão ambiental.

“Hoje em dia, é possível dobrar a produção diminuindo a área ocupada pela pecuária graças às novas tecnologias, como a ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), melhorias em sementes, capim, alimentação, nutrição e saúde, além da genética. Todas proporcionam a precocidade dos animais, que já estão sendo abatidos aos 24 meses com 19 arrobas, em regime de pasto”, destacou.

Para Viacava, o Brasil é importante para o mundo e precisa ser respeitado pelas suas ações em prol do meio ambiente. “Precisamos mostrar que a nossa pecuária vai produzir uma carne cada vez melhor graças ao avanço da genética bovina e da nutrição. Mantendo a responsabilidade, com o uso da ILPF e baixas emissões de carbono, vamos melhorar a nossa imagem no exterior e abrir ainda mais mercados para o nosso País”, finalizou.