Artigo: Carne brasileira: do pé-duro ao contrafilé de primeira

Publicado por carlosviacava
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Em recente publicação da ABIEC, encontramos trechos interessantes de autoria de Mário Palmério, registrados no romance “Vila dos Confins”, de 1956, onde o autor fala do fenômeno da multiplicação do gado no Triângulo Mineiro, resultado das inovações e cruzamentos daquela época: “Gado há bastante. Quase tudo ainda gado de antigamente e ordinaríssimo pé-duro. Progridem, todavia, algumas zonas, resultado da cruza do Zebu. O Gir, o Nelore e o Guzerá melhoram: pé-duro e curraleiro viram mestiços, mestiço vira meio-sangue, meio-sangue vai virando aos poucos um gadão de muita caixa e peso, Zebu inteirado, de cupim, barbela e gavião. É só não desanimar, que o cruzamento compensa”.

Disso tudo nasceu o PO (Puro de Origem), graças ao trabalho da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, criada em 1934, transformada em ABCZ, cujos associados criaram, em 1938, o Registro Genealógico das Raças Zebuínas.

Esse é a origem do gado PO zebuíno brasileiro, que fixou raças com o Gir e Gir Mocha, o Nelore (mocho ou de chifres), denominações de ambos constantes do Regulamento do Registro Genealógico das Raças Zebuínas, o Guzerá, o Sindi, o Indubrasil, o Tabapuã, o Cangaian e, mais recentemente, o Brahman, importado dos Estados Unidos e países latino-americanos.

Dentre essas raças que se tornaram importantes produtoras de leite e carne, tiveram grande expansão o Gir e o Nelore, graças, principalmente, à sua perfeita adaptação ao clima das regiões tropicais e semitropicais que caracterizam o grande planalto central brasileiro.

E o contrafilé de primeira?

As maiores quantidades de carne consumidas no mundo provêm das raças britânicas, Hereford e Aberdeen Angus, selecionadas há milênios para produção de alimentos, enquanto raças continentais e mesmo algumas zebuínas foram desenvolvidas principalmente para tração e muito utilizadas na produção agrícola e no transporte.

A dificuldade de adaptação dessas raças ao ambiente brasileiro, de um lado, e a grande facilidade de adaptação do Nelore, de outro lado, fizeram com que essa raça tivesse enorme crescimento entre nós e se transformasse num produto de exportação valioso em nossa balança comercial.

A grande façanha de nossos selecionadores foi estabelecer padrões raciais objetivos e persegui-los tenazmente durante anos a fio até que conseguíssemos a uniformidade racial que impera em nosso gado Nelore e em outras raças zebuínas. Dali em diante, entra o melhoramento genético, que deve ser empregado para a melhoria da qualidade e do poder competitivo da carne brasileira. Mais carne de boa qualidade a preços competitivos, gado mais eficiente para a lucratividade dos criadores e para a produção de carne de padrões internacionais.

É igualmente importante crescer com sustentabilidade ambiental, melhorando as pastagens degradadas, aumentando o sequestro de carbono, reduzindo a emissão de metano e assim contribuindo no combate à desertificação mundial e às mudanças climáticas.

Por essas razões, entendo que a ABCZ deve colocar entre suas prioridades a defesa da carne brasileira no Brasil e no exterior, independentemente da raça; o melhoramento genético, prestigiando em alto nível todos trabalhos aqui desenvolvidos; e a integração lavoura-pecuária-floresta.

Carlos Viacava

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