Artigo: Nem só de PO vive a pecuária
Carlos Viacava
P.O. significa “puro de origem”. Daí surgem também as expressões POI, LA e Cara Limpa. Uma das funções da ABCZ, por delegação do Ministério da Agricultura, é cuidar do registro genealógico das raças zebuínas no Brasil, mas não é a única: elas podem ser muito mais abrangentes.
Trata-se de uma missão valiosa, porque preserva a genealogia do nosso rebanho de origem indiana (“bos indicus”), como também é valiosa a missão de outras associações de raças a quem compete o registro do gado de origem europeia (taurino ou “bos taurus”).
Para o melhoramento genético, é importante o conhecimento da genealogia correta, por várias razões, inclusive para se conhecer o grau de consanguinidade de um acasalamento ou mesmo de um rebanho inteiro.
Para tornar economicamente viável esse controle genealógico, estabeleceram-se taxas ou encargos para os pecuaristas que por ele se interessassem, taxas essas que compõem a principal receita da ABCZ e que só são suportadas pelos criadores porque há uma isenção total do ICMS para esses animais. Ou seja, o controle genealógico só subsiste porque é subsidiado pelo poder público estadual e por um arcaico sistema tributário, que no caso específico realiza uma bitributação, porque o ICMS é pago novamente na venda da carne.
Deixando de lado o problema das distorções de nosso sistema tributário e pensando em melhorar a pecuária e a carne brasileiras, devemos considerar que só uma pequena parte do gado brasileiro é PO, ou é controlada pela ABCZ, cujo público alvo é uma minoria do nosso rebanho.
Por isso, acredito que a missão da ABCZ pode ser muito mais abrangente quando envolver também os rebanhos de gado hoje fora de seu controle, que compõem a maioria dos animais existentes.
Toda fazenda de cria, recria ou engorda pode aumentar sua eficiência se contar com um apoio técnico de custo acessível envolvendo a identificação dos animais e o melhoramento genético.
Para se alcançar resultados no melhoramento genético é importante a genealogia, mas ela não é peça indispensável desde o início. Pode-se iniciar com a identificação dos animais, e pouco a pouco, a cada nova geração, irá sendo construído o pedigree dos indivíduos.
Os valores cobrados hoje pela ABCZ para registro de nascimento, registro definitivo, participação no melhoramento genético, etecetera são muito altos para atrair novos criadores. Pode-se dar um apoio muito grande a inúmeros criadores com um assessoramento técnico que inclua a adoção de programas de melhoramento existentes no Brasil, inclusive o da ABCZ, que recentemente desenvolve programa próprio, mas sem desprezar os demais, sem querer monopolizar as ações. Deixemos o mercado resolver o que é melhor para cada um, com liberdade.
Claro que esse assessoramento técnico tem um custo, mas será um custo muito inferior se não houver exigência dos certificados atuais de nascimento, registro definitivo, multas e outras cobranças desnecessárias.
Quem não precisar desses documentos pode dispensá-los e assim mesmo produzir uma melhoria em seu criatório obtendo avanço expressivo na performance e nos resultados econômicos.